De: FMSGPara: provedor@rtp.ptCaro Sr. Dr. José Manuel Paquete de Oliveira, Provedor da Radiotelevisão Portuguesa,
em primeiro, gostaria de aproveitar esta quadra festiva para lhe desejar um Santo Natal e um 2007 ao nível das suas melhores expectativas pessoais e profissionais!
Quero também felicitar a RTP; porque cresci com ela, porque formei-me com ela, porque, nos seus e meus momentos fortes e nos seus e meus momentos baixos, nunca deixou de ser a minha RTP!
Esta minha mensagem vem a propósito da vossa louvável e sempre memorável iniciativa desta noite do dia 17, a
Gala Dança Comigo Por uma Boa Causa, dedicada a juntar dinheiro para um Fundo de Solidariedade das Nações Unidas e para o Serviço de Pediatria do IPO de Lisboa.
O somatório de todas estas iniciativas ainda é muito pouco para toda a tristeza e miséria que a condição humana atravessa em alguns (sempre os mesmos!) dos locais do nosso planeta, do nosso país, da nossa cidade, do nosso bairro... mas cada um destes eventos serve também para nos recordar que a palavra
solidariedade não é algo de teórico, é algo que se pratica! Daí o meu agradecimento, à RTP e à Catarina Furtado, pelo empenho e dedicação nesta sua (nossa) causa!
Porém, queira, por favor, considerar algumas pequenas notas pessoais sobre este vosso programa... escreve-lhe alguém que viveu 18 anos no interior do país e que vive actualmente, há mais de 10 anos, na cidade do Porto. Tenho, por isso, este enorme previlégio de conhecer um país que se desenvolve a duas velocidades: o do interior e o do litoral. E porque falamos de
solidariedade, não poderia deixar de referir esta minha costela beirã (da Baixa) relativamente a esta questão que lhe proponho! É que há algo que me perturba mas que moralmente apresenta-se como um dilema sofredor e que pode ser facilmente mal compreendido e mal usado: pergunto-lhe, tão simplesmente, porque razão os fundos arrecadados nesta vossa iniciativa, destina-se para o IPO de uma determinada cidade (sempre a mesma, quase sempre...) e porque não partilhar essa riqueza da prova de nobreza dos portugueses com os restantes IPOs do país, com as restantes crianças e pais sofredores do nosso pequeno Portugal? Serão, porventura, as crianças e pais do Porto, de Castelo Branco, de Faro ou de Coimbra menos merecedoras da vossa
solidariedade do que as de Lisboa? Não terá o IPO de Lisboa outros meios, outra capacidade para conseguir fundos que os outros não terão? Por favor, compreenda positivamente esta minha questão: uma criança é sempre uma criança, uma criança salva em Lisboa é uma benção tal como uma outra salva em Aveiro ou em Beja, mas... porquê apenas contemplar Lisboa? Porque não estender essa generosidade? Porque não, proponho eu, entregar esses donativos a organizações que actuam nos IPOs a nível nacional? Se o dinheiro angriado para a ONU compreende-se pela extensão planetária dessa organização, porque razão descriminam a solidariedade no nosso país e para com o nosso país?
Por outras palavras, como é que uns pais de uma criança que esteja internado no IPO do Porto pode compreender que um amigo do seu filho do IPO de Lisboa receba o nosso dinheiro e não o filhos deles? Consegue explicar tal
filtração de solidariedade a esses pais? É que eu não sei e gostava de saber se haverá alguma maneira de o transmitir...
Não entenda esta minha mensagem como algo de mesquinho, como catalizador das sempre imbecis guerras Lisboa/Porto (como se o nosso país fosse uma enormidade!) ... não o é e acho que, por falta de
solidariedade esquecemo-nos de todo o imenso país que há abaixo do Tejo e acima do Douro! E, em última análise, quem perde... somos todos nós!
Mas deixe-me que lhe diga que também contribuí, com 2 telefonemas, para a vossa (nossa) causa! Porque os meus amigos cidadãos de Lisboa (e não só) também sofrem, riem, amam, tocam e sentem como eu! E, se com o meu pequeno gesto posso aliviar a dor deles, então não há lugar para hesitações! Apenas gostaria que o vosso gesto fosse extensivo também ao Portugal dos outros que também sofrem...
Com os meus melhores cumprimentos,
FMSG