Ingerências!
A França vive, hoje, um clima de terror por aquilo que pode ainda vir a acontecer a dois dos seus jornalistas que foram sequestrados e ameaçados de execução no Iraque.
Este acto não está relacionado com a guerra no Iraque; de facto, tudo isto está acontecer por culpa exclusiva de Paris e seus decisores e políticos.
Convém relembrar que, na questão iraquiana, Paris sempre se opôs à intervenção americana e britânica; e até tinha razões válidas de ordem interna para suportar tal decisão: há uma enorme minoria muçulmana a viver em França proveniente das suas antigas colónias do norte de África e, caso a França apoiasse a intervenção militar, poderia haver fortes distúrbios civis. Portanto, a atitude francesa era claramente compreensível!
Mas, para espanto de muita gente, a França decidiu dar um autêntico tiro no pé no que diz respeito aos direitos e liberdades dessa mesma camada da população quando aprovou, com enorme polémica, uma lei que proíbe as mulheres muçulmanas de usarem o já famoso véu, uma tradição secular do seu povo e dessa religião! Para além de ser claramente uma restrição à liberdade de expressão (e os franceses frequentemente definem-se como os heróis da liberdade!), os políticos franceses colocaram-se numa perigosa encruzilhada ao misturar política com religião! Erro grave!
Agora, os raptores destes jornalistas franceses, dizem que estes não serão executados se e apenas se a França revogar esta lei; como já afirmei, a França errou nesta questão! E como quem não sente não é filho de boa gente, esta acção terrorista era mais ou menos previsível.
Mas uma outra questão levanta-se: até que ponto é que será legítimo e perigoso depender toda uma política e todo um destino de uma nação das acções de um grupo terrorista? É que se a França ceder (o que eu não acredito que aconteça!), teremos, pela segunda vez num curto espaço de tempo e no espaço europeu, uma claríssima ingerência de grupos terroristas nas políticas de um povo! Aconteceu na Espanha com a queda de Aznar e poderá também acontecer agora em Paris...
Vivemos, por isso, em tempos conturbados em que, de um momento para o outro, todo um quadro político interno pode ser alterado devido à interevenção directa de grupos extremistas externos a esses mesmo países; a própria ciência política é obrigada a dar passos muito largos nos próximos tempos!