Antes de mais, uma declaração de interesses: faço parte do grupo
Almedina; a empresa de Marketing e Comunicação
MilTemas, concorrente à gestão financeira e cultural do Teatro Rivoli, faz parte do mesmo grupo.
Apesar de me situar politicamente no
espectro canhoto da nossa política, nunca tive propriamente muitos problemas de consciência ao encarar uma gestão privada dos espaços culturais públicos. Penso que todo este debate gestão pública/gestão privada assume contornos políticos quando, o que verdadeiramente interessa, é encontrar pessoas e entidades com competências em fornecer uma programação (essa sim!) verdadeiramente pública para os frequentadores desses espaços. Quero eu dizer com isto que a cultura não deve ser elitista, não deve ser prisioneira de uma classe social, de um
lobby! Quero eu dizer com isto que a própria definição de
cultura não é universal, não é consensual, logo, porque haveria de ser o seu público? E, seguindo a mesma lógica, sendo a
cultura um espaço sem fronteiras e sem definição, porque razão a sua gestão deverá estar ao cargo meramente de instituições públicas? Gostaria de relembrar que um dos maiores símbolos do conteúdo e produção cultural do nosso país provém de uma instituição privada: a
Fundação Calouste Gulbenkian!
Por isso, custa-me perceber as motivações do movimento
Juntos no Rivoli. O perigo de uma selecção elitista de eventos e espectáculos como consequência de uma gestão privada do Rivoli não é muito credível! E isto porque quem se mexe nestes campos sabe que um espaço como o Rivoli só é rentável economicamente e culturalmente se abrir as suas portas à grande generalidade e variedade de públicos, eventos, orientações e expectativas... não conhecendo as propostas das outras empresas concorrentes, não as posso comentar, mas a Directora da MilTemas, Mafalda Magalhães,
já afirmou publicamente que é essa a política que gostaria de implementar nesta emblemática sala do Porto e eu concordo em absoluto! Um Rivoli pelo e para o Porto, para todo o Porto! Um Rivoli que seja um ponto de encontro cultural, mas também pedagógico, mas também de ideias, de iniciativas, de formação e de espírito! E um Rivoli como elo de ligação entre
todos os Portos que existem nesta metrópole! Por isso, estou em total acordo e solidário com a proposta da MilTemas e, pelos vistos, não serei o único, como indica hoje o
Público:
A Câmara do Porto afirma, num comunicado divulgado no seu site electrónico, ter recebido ao todo propostas de seis entidades diferentes: Portoeventos, Inatel, Teatro Politeama (gerido por La Féria), Miltemas Serviços e Produções de Marketing, Plateia Associação de Profissionais das Artes Cénicas e Companhia do Som. Contudo, ao que o PÚBLICO apurou, há apenas cinco concorrentes.
Isto porque o envelope enviado pela Companhia do Som aos serviços municipais não é uma candidatura, mas sim uma manifestação de apoio ao projecto da Miltemas, uma empresa que integra o Grupo Almedina Editores e Livreiros. Rui Sousa, da produtora, revelou ao PÚBLICO que o que está nos paços do concelho é, efectivamente, uma carta de associação e apoio à candidatura da Miltemas.
Pergunto-me se não seria possível criar à volta da proposta da MilTemas uma plataforma mais alargada de consensos e de sinergias; pela sua força, intenção, filosofia e dedicação de quem a elaborou, acho que o Porto e os Portuenses só teriam a ganhar com tal envolvimento e liderança do grupo que nasceu em Coimbra mas que até já cresceu para fora deste nosso país!
Não gostaria de ver o Rivoli entregue a quem não tem essa capacidade para dialogar, para cativar outros públicos, outros agentes da cidade, do país, do mundo. A alguém que não saiba que 1 + 1 pode ser diferente de 2, pode ser 3, 4 ou 5 se houver cooperação, respeito e abertura para com o público e para com os outros agentes culturais da nossa cidade! Não gostaria de ver o Rivoli como um espaço de espectáculo único!
E não quero acreditar que é isso que Rui Rio pretende apresentar aos portuenses! Lá mais para o final do próximo mês já o saberemos...