quinta-feira, outubro 19

Eu não sou um Grande Português??

Para que não me acusem de apenas dizer mal do nosso panorama televisivo, deixem-me começar por afirmar que este novo programa da RTP, Os Grandes Portugueses, tem o mérito de colocar a nossa sociedade a olhar, de novo, para a nossa História! Rever como e quando fomos realmente Grandes deveria ser uma obrigação cultural de todos nós e deveríamos utilizar essa reflexão como mola impulsionadora e inspiradora para um futuro condizente com esse nosso passado e não apenas como mero acto nostálgico!

A questão complica-se tremendamente quando nos pedem para escolhermos a maior das nossas figuras históricas! Como diria o outro, não habia nexexidade! O conteúdo de serviço público e de excelência estava assegurado apenas com a evocação das nossas personalidades, a componente comercial/mediática era de todo escusada! Porque, pura e simplesmente, todas as nossas grandes personalidades foram enormes no seu contexto temporal, espacial e conjuntural! E tal aplica-se desde D. Afonso Henriques, passando pelo Infante D. Henrique, Mário Soares, Sá Carneiro ou Rosa Mota! Todos eles passaram por desafios muito maiores do que eles próprios, privaram-se de muito para alcançar o fogo dos Deuses e, estou certo, qualquer um deles representa o melhor que Portugal tem, independentemente da área de actividade ou orientação política! Até mesmo Salazar, no que de mau fez, deve ter sido o maior do seu tempo!
A questão é que entramos sempre na mesma discussão circular do ovo e da galinha! Sem a valentia de D. Afonso Henriques, haveria os Descobrimentos do Infante? Sem o Eusébio haveria um Benfica Europeu? Sem Mário Soares haveria a entrada de Portugal na CEE ou, sem Cavaco Silva e António Guterres, estaríamos hoje com os (poucos!) euros nos nossos bolsos? E haveria Mourinho sem o Benfica, o primeiro clube que apostou nele?

A relevância de cada uma das figuras destacadas no programa dependem de conjunturas do presente e das condições que lhes foram proporcionadas por um passado; em qualquer um dos casos, medir, quantificar ou qualificar essas conjunturas e as condições do passado é uma tarefa absolutamente impossível de concretizar, razão pela qual colocar lado a lado D. Afonso Henriques ou Amália Rodrigues é um exercício de delírio puro e, diga-se, desprestigiante para os mesmos!

Se os túmulos pudessem falar...

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