domingo, fevereiro 11

Balanços e previsões

Agora que terminou o período de campanha relativo ao referendo de domingo, permitam-me um balanço em forma de exercício meramente pessoal:

- os excessos e intolerâncias houve-os de ambos os lados; era inevitável mas acho que até houve um registo mais civilizado desta vez quando comparado com o referendo de há alguns anos atrás!

- a Igreja, subtraíndo-se alguns excessos pontuais e resíduais, também esteve à altura da dignidade desta campanha! Nunca poderia defender o "Sim", mas não se excedeu na defesa do "Não" e, por isso, merece os meus aplausos;

- uma vez mais, e do lado do "Não", insistiu-se na estratégia de confundir despenalização com liberalização, bem como em assumir que os apoiantes do "Sim" devem ser identificados como defensores da morte; esta táctica resultou no último referendo, não acredito que aconteça de novo agora. De qualquer forma, foram inteligentes na maneira como manipularam a opinião pública e os media nesta matéria;

- continuo a achar que a questão da IVG é um problema mas não um ponto fulcral para o desenvolvimento do país ou para o crescimento que para ele todos desejamos! Haveriam, certamente, outros referendos bem mais importantes para se fazerem e espero que não se lembrem de avançar agora para o referendo da regionalização!

- é preciso sempre lembrar que um voto em branco corresponde a uma atitude política e cívica enquanto que a recusa de ir às urnas corresponde à recusa de um exercício basilar das democracias; a abstenção que resultar deste referendo é um teste, também, à maturidade e responsabilidade da democracia portuguesa e dos seus eleitores! O desinteresse em relação a esta matéria não pode justificar um alheamento colectivo! E, neste referendo, é obrigatório lembrar que a abstenção é também um acto de favorecimento directo para um dos lados!


As minhas previsões:

- até hoje não houve uma única sondagem que apontasse para um vitória do "Não"; por si só, isso não é um indicador de vitória garantida para o "Sim", pois em 1998 o cenário foi muito semelhante, em que o "Sim" era dado como ganhador à partida! Penso que, desta vez, o resultado será mais distanciado do que aquele que se registou em 1998, quer ganhe o "Sim" quer ganhe o "Não";

- os resultados registados na Grande Lisboa e no Grande Porto serão absolutamente fundamentais para a vitória de qualquer um dos lados; o restante país deverá apresentar valores muito idênticos aos obtidos em 1998. É interessante reparar que, nesta campanha, houve vários movimentos mais jovens afectos ao "Sim" que foram constantemente dinamizados devido à actuação precisa da esquerda mais radical (BE e PCP) e que, por isso, podem constituír, em si, um factor determinante neste referendo. Prevejo que o "Sim" ganhe mais confortavelmente na Grande Lisboa do que no Grande Porto e nas outras grandes cidades (Braga, Aveiro, Coimbra, Setúbal...), haja um equilíbrio muito grande com ligeira vantagem para o "Sim", ficando o interior, sul (excepto Algarve) e ilhas com uma tendência clara para o "Não";

- a abstenção será o grande joker deste referendo; acredito que, por votos expressos, o "Não" irá perder este referendo, mas poderá ganhar em última instância através da abstenção! Jogo sujo mas previsto na lei e Sócrates já disse que se isso acontecer não muda a mesma. Aponto para uma abstenção a rondar os 44%, tornando, assim, este referendo vinculativo!

- o day after no panorama político será muito interessante de seguir: caso o "Sim" ganhe, Sócrates tem liberdade para legislar mas também, sobretudo, para criar condições dignas para uma IVG (sempre em último recurso) com fundamentação clínica e psicológica e isso é absolutamente imperativo! Caso o "Não" ganhe, o PM pura e simplesmente nada poderá ou deverá fazer! De qualquer modo, uma vitória do "Sim" não irá trazer muitas recompensas a Sócrates, tal como uma vitória do "Não" não vai beliscar minimamente o prestígio e liderança que a sociedade ainda reconhece ao actual PM!

E domingo, no final da noite, voltarei a ler este meu post!

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