domingo, fevereiro 20

Cumprir a obrigação... com atenção...

Acabei de chegar da minha mesa de voto; cumpri o meu dever de cidadão e partilho convosco alguns pontos de reflexão...

1. Mais do que qualquer outra coisa, pede-se, no final deste acto eleitoral, uma solução de estabilidade governativa. Na minha óptica, tal quadro apenas é possível com a atribuição de uma maioria absoluta a um partido e, nas presentes condições, o PS é o único que pode atingir tal objectivo! Para o PS, não ter a maioria absoluta é uma derrota e é ficar à mercê dos humores da esquerda mais radical (PCP e BE). Concordo em absoluto com o Nuno Sousa, do Barnabé, quando ele afirma que: (...) Consideram os bloquistas que dar uma maioria absoluta a Sócrates é passar-lhe para a mão um cheque em branco. Mas há que ver que um governo de maioria relativa dependente dos humores do BE para acordos parlamentares é exactamente o mesmo: outro cheque em branco. Mas desta vez nas suas mãos. (...)

2. Portugal precisa, de uma vez por todas, de assimilar a ideia de que precisa urgentemente de proceder a reformas estruturais em área fulcrais para a actividade do Estado e dos seus cidadãos. Saúde, Educação, Justiça, Economia e Segurança Social (na função pública como nos privados) são as áreas mais sedentas de mudanças profundas! Porém, qualquer pessoa minimamente inteligente sabe que tais reformas teriam de ter uma acção prolongada no tempo, algo que poderia ocupar toda uma geração! Os nosso orgulhoso passado foi construído sobre uma condição e premissa que agora tanto nos falta: a paciência! Foi com paciência que os nossos navegadores, durante anos e anos, contornaram os seus obstáculos marítimos e descobriram novos mundos! É essa a paciência que hoje temos de ter para suportar uma dor do presente (e futuro próximo) mas que frutificará num alívio e segurança para um futuro mais distante...
Hoje, mais do que em qualquer outra época da nossa História, temos de pensar cada vez mais nos nossos filhos e netos em vez de pensarmos em nós próprios... hoje, mais do que em qualquer outra época, o portugês tem de demonstrar a sua inteligência e solidariedade para o futuro dos seus próximos! Caso contrário, os próximos serão a frustração e desilusão dos nossos gloriosos antepassados!


2 histórias matinais...

Eu fui votar no Gabinete do Munícipe, perto da Câmara do Porto; moro em Faria Guimarães, pelo que tinha sempre de passar pela zona da Trindade, zona essa conhecida pela sua companhia feminina participada!
Quando regressava da mesa de voto, passei à frente de uma pensão; à porta estava uma jovem que não deveria ter mais de 20 anos; bem vestida, bonita e muito bem maquilhada, perguntou-me: Vamos para o quarto?
Atónito, abanei negativamente com a cabeça... ela sorriu, tinha percebido claramente a minha resposta! Não pude deixar de imaginar aquela rapariga numa sala de aulas numa faculdade qualquer; basta percorrer a secção de classificados de qualquer jornal e ler as propostas sexuais de tantas (e tantos) estudantes universitários.
Naquele momento, assaltaram-me dois sentimentos contraditórios: um explicava-me que não deveria ter pena alguma dela, uma vez que, com aquela idade e aparentemente de boa sáude, ela poderia tentar encontrar um emprego bem mais digno (se bem que menos rentável!) e triunfar na vida com outra consciência; um outro sentimento ilustrava-me com dor e pena por aquela jovem; não sabia o seu passado, de onde vinha e como chegou ali... teria hipótese de mudar? Se sim, porque não mudou? Cedeu à tentação do dinheiro fácil? Será que tem alguém na vida que a possa ajudar? Será que haverá alguém que aposte nela, alguém que tenha paciência para com ela?
Não lhe dirigi nenhuma palavra... quero acreditar que foi devido ao espanto e não por qualquer acto de pouca misericórdia ou dignidade para com ela.
Posso nunca mais a ver, mas, se tal acontecer, pelo menos gostaria de lhe perguntar o nome e que faculdade frequenta...

Continuando a minha caminhada de volta para casa, passei pelas traseiras do Hospital da Ordem da Trindade, mesmo no início da Rua de Camões (para quem sobe em direcção ao Marquês). Aí, junto a um restaurante para pessoas obesas (repare-se na ironia!), estavam deitados umas 6 ou 7 pessoas; escondidas em cobertores velhos e vigiados pelas garrafas de vinho e água vazias e por sacos plásticos a voarem à sua volta, estavam ainda a dormir... estavam à vista de todos, não escondendo a sua tristeza e abandono a que o Mundo os vetou! Para eles, hoje era mais um dia qualquer; para eles, não lhes interessava saber se hoje era um dia importante para Portugal ou não; para eles, importante era saber onde, como e quando encontrar a próxima refeição (!!??)...

Estes são dois quadros em tudo semelhantes da nossa realidade, daquilo que Portugal hoje é: de um lado, a tristeza e a pobreza mascarada na maquilhagem de uma jovem oferecida; do outro, a tristeza e a pobreza descarada num grupo de cidadãos perdidos no espaço e no tempo...
Gostamos de ser e de nos reconhecer na figura do coitadinho? Eu, pelo menos, não o queria, não o desejo e não o anseio... mas é uma realidade incontornável do presente e o nosso dever é lutar para que, no futuro, esta pintura seja uma mera recordação do passado; que, daqui a 10, 20 ou 30 anos, olhemos para trás e saibamos valorizar o sacrifício que fazemos agora por aqueles que, tenho a certeza, ainda nos vão voltar a glorificar! Esse passo pode ser dado hoje...

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