segunda-feira, fevereiro 12

Luzes e Trevas no rescaldo da noite eleitoral...

As luzes:

- Sócrates teve um discurso moderado, reconciliador, positivo e prático; indicou o que vai fazer e diz que conta com a ajuda e contributos de todos, inclusivé do Não;

- Marques Mendes, por aceitar a derrota pessoal e, ao contrário de Ribeiro e Castro, ter assumido que a lei tem de ser mudada;

- máquinas partidárias do PS, BE e PCP porque foram também essenciais na vitória do Sim, com especial acção da máquina rosa.

As trevas:

- Francisco Louçã teve uma reacção à vitória do Sim no mínimo desastrosa e no máximo profundamente irresponsável; a provocação à Igreja (com o agradecimento aos católicos que votaram Sim), é uma atitude lamentável de alguém que, regularmente, assume atitudes e discursos infantis que não contribuem em nada para que o levem a sério...

- a reacção dos movimentos mais mediáticos do Não, que, falando de novo na vitória da liberalização do aborto e do aborto livre, ou a utilização de expressões e palavras muito mais ofensivas em vários sites e blogs ainda não perceberam (alguma vez irão perceber?) porque razão perderam de uma maneira tão expressiva neste referendo; a atitude dos responsáveis pelo Não que estavam na sede do movimento de silenciarem as televisões quando Sócrates falou é exemplificativa do mau perder, da infantilidade democrática, da estupidez que se apoderou de algumas mentes, sobretudo quando eram eles, mais do que qualquer outros movimentos, que teriam muito interesse em ouvir o que Sócrates disse!

Algumas notas (essas sim!) livres:

1. Não percebo porque razão alguns do Não vêm agora dizer que a contribuição de Marcelo Rebelo de Sousa foi má para o Não! Acredito piamente que se não fosse a intervenção directa do Professor, a derrota do Não seria muito mais expressiva; esta tentativa de tentar encontrar responsáveis pela derrota fora da esfera dos seus movimentos cívicos é triste e revelador de muita da filosofia do Não!

2. Repare-se para esta reacção absolutamente democrática: no blog do Sim refere-se que "Acordar com a sensação de que a longa noite obscurantista chegou ao fim." ... e qual é o comentário do Não? Pasmem-se: Nem dois pares de estalos serviam para a acordar da "longa noite" que vagueia na cabeça dela, se é que a tem.

Ah... o saudável ambiente democrático que se vivem para aqueles lados!

3. Torna-se fundamental, a partir de agora, que o PS e o Governo tenham uma atitude responsável perante estes resultados, i.e., que criem condições para um verdadeiro aconselhamento e acompanhamento médico e psicológico das mulheres que pretendam abortar e, também, avançar com força e determinação para políticas educativas de educação sexual e planeamento familiar. Com um resultado destes, a responsabilidade do PS é, agora, brutal!

4. Ouvi, durante a noite, como argumento em desespero de causa por parte do Não, que esta vitória criou uma grande onda de expectativas entre as mulheres; repito o que disse acima, este argumento é mais uma prova de que o Não ainda não sabe como perdeu: voltam a tratar as mulheres como umas coitadinhas que não sabem decidir, que não sabem raciocinar, que não são parte activa e inteligente da nossa sociedade!

5. Outra nota da noite passada que me criou alguma perplexidade ao nível da argumentação do Não: o dizerem que irão ser fiscalizadores da futura acção do goevrno nesta matéria e que propõem um aumento do subsídio de maternidade igual ao preço de um aborto! Quanto à fiscalização, é abusador e irresponsável esse tipo de declarações; felizmente, o estado democrático dispõem de entidade e utensílios auto-reguladores independentes para superviosionar estas práticas e não serão certamente grupos que mostraram tanta falta de sentido democrático que irão fiscalizar a acção do governo nesta área! Sobre o subsídio de maternidade equivaler-se ao preço de um aborto, eis uma declaração emotiva bem ao estilo de Louçã: demagogia pura e dura, essencial para que os apoiantes do Sim tivessem com que gritar por algo na noite passada!

6. Sobre Castelo Branco, uma observação que tenho de agradecer a uma querida amiga dessa cidade com quem conversei electronicamente durante a noite: disse-me ela que foi a 1ª vez que votou neste referendo (por questões de idade) e, de facto, eu conheço bem a geração dela que, pela 1ª vez, votou neste referendo! Trata-se de uma geração com aspirações pessoais e profissionais ambiciosas e com mentalidades mais flexíveis... isso pode também explicar o sentido da votação na capital da Beira Baixa!

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