terça-feira, fevereiro 14

Sempre Pessoa

Era para não tocar no assunto para não ser acusada de lamechice crónica. Mas não resisto. É por uma boa causa, ainda que ridícula. Até porque amar faz bem.
Num dia dedicado ao consumismo desenfreado, em que se fala de tudo menos do amor que nos liga a outrém, não resisto em pegar em mais um poema do poeta que, da forma mais brilhante e sensivel conseguiu colocar em papel as emoções mais subtis e, ainda assim, mais profundas...


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje

As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos

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