Queria...

Mais um ano lectivo prestes a acabar e as dúvidas recomeçam a dilacerar. Por um lado gostava de continuar em Coimbra que, lentamente, começo a conhecer e cujos meandros me começam a ser familiares. Queria ficar com os meus meninos, que me fizeram ver a vida de outra maneira e me ensinaram mais do que eu alguma vez lhes poderei ensinar. Queria acabar o mestrado que agoniza na minha secretária e põe a minha orientadora em estado de sítio. Queria sedimentar algumas amizades que me são tão caras. Queria ver a minha Briosa todos os quinze dias no ECC.

Mas por outro lado quero ir embora daqui. Coimbra não é a minha terra. Não me sinto aqui em casa. Fazendo o balanço, e contrariando o Malato, não fui / sou muito feliz aqui. Pelo contrário. Aqui conheci o que de pior há nas pessoas. Foi aqui que pude constatar que a teoria do Bom Rebelde é ridícula. A maldade, desonestidade e falsidade é inata a muita gente. A cidade acaba por, involuntariamente, absorver as vivências que nela temos e os sitios têm cheiros e texturas que associamos a pessoas e a momentos.

Queria voltar para Lisboa. Voltar para os meus amigos, para a minha cidade, para a minha "casa", para as minhas colinas, ruas e vielas. Para o cheiro a mofo dos becos estreitos, para o sol entrecortado pelos prédios altos, para um sítio onde ninguém me conhece se passar na rua e onde posso respirar a plenos pulmões. Queria poder ouvir em segredo da minha janela a tua música e sorrir. Queria passear em Sintra aos fins de semana e cheirar o mar na Adraga.

Queria perder Coimbra e a memória e recomeçar o que ficou por acabar...