quinta-feira, julho 10

Contextos...

Concelhos e conselhos!
A semana que passou ficou marcada pela ainda provisória elevação a concelhos de Canas de Senhorim e de Fátima. Provisória porque falta ainda o "aval" do Presidente da República. Mas Jorge Sampaio já disse que não gostou muito da ideia!
A questão é polémica. Porém, os factos dizem-nos que quer Canas de Senhorim quer Fátima não preenchem os requisitos mínimos exigidos para a referida elevação. O que o Governo fez foi contornar o problema, ou, visto de um outro ângulo, mudar as regras do jogo de modo a que a sua decisão tivesse o mínimo de legitimidade legal. Colocar como requisito a "projecção e importância internacional" do candidato a concelho foi algo que, quase literalmente, caíu do céu no que diz respeito a Fátima! Pois Fátima é reconhecida no estrangeiro, mas e Canas de Senhorim? Que feitos ou importância tem Canas de Senhorim registados no seu passado ou presente de modo a merecer uma projecção ou importância internacional?
Convém referir ainda um outro aspecto: por um lado podemos argumentar que o que este governo fez foi cumprir uma promessa eleitoral. É raro que tal ocorra neste paí­s, logo temos de louvar tal atitude. Mas o cerne do problema reside, precisamente, no tipo de promessas eleitorais que partidos e candidatos fazem nas suas campanhas eleitorais. É preciso avaliar a disponibilidade prática de tais promessas, se são economicamente acessíveis, se não são factores de cissão popular, se não criam precedentes perigosos. E foi precisamente isso que esta decisão cometeu: abriu um precedente perigoso. Como disse, e bem, a oposição (embora o PS faça o mesmo): abriu-se uma caixa de Pandora!
Mas esta decisão também vem dar uma machadada naquilo que tem sido a estratégia deste governo para o paí­s. Numa altura de recessão económica, numa altura em que este governo tenta ir buscar dinheiro a todos os sítios (não poderia fazer outra coisa), não se percebe muito bem o porquê da criação de mais dois concelhos que, como se sabe, irão ser mais duas bocas que o governo tem de alimentar!
Não é difícil de prever o que irá acontecer a seguir: uma lista enorme de freguesias que, com ou sem legitimidade, irão pedir também a promoção. Algo vai mal e não é só no Reino da Dinamarca mas isto ainda vai piorar... No fundo, vamos ver como é que este governo vai descalçar esta bota; será mais um teste às suas capacidades de realizar difíceis manobras polí­ticas nos bastidores.
Por fim, uma curiosidade pessoal: até que ponto se fez sentir a pressão da Igreja portuguesa junto do governo no caso da elevação de Fátima a concelho? Talvez seria bom, um dia, escrever um pouco sobre a Igreja portuguesa, em particular, e sobre o valor e a importância da instituição Igreja no mundo actual.


Deputados na Taça UEFA - e as faltas?
Num tom mais humorístico, gostaria de abordar um outro tema da semana: a natureza das faltas - justificadas ou não - que os deputados deram na AR na altura da final da Taça UEFA entre o FCP e o Celtic. É que o caso é para rir!
Alguém disse que cada país tem os políticos que merece. E, de facto, para a pequenez do nosso paí­s temos pequenos polí­ticos. E pequenos em muitas coisas.
Toda esta questão é ridícula e sensatez teve o Presidente da Assembleia da República ao não aceitar a justificação dada pelos deputados para tal ausência - estavam em "trabalho polí­tico". Parece óbvio a todos os portugueses que "isto não pega!". É passar um atestado de estupidez a todos nós. Desde quando é que assistir a um desafio de futebol é um trabalho polí­tico? Os nossos deputados até podiam passar o tempo todo a falar de Portugal e do Porto aos seus congéneres espanhóis (e escoceses, já agora!), mas a natureza do evento é clara: é um entertenimento! Qualquer dia temos estes mesmo políticos a exigirem o pagamento de horas extraordinárias porque sempre que vão ao futebol no fim de semana estão também lá a fazer "trabalho político".
Um pouco de decência, respeito e dignidade é o que pedimos aos nossos políticos. E, pelos vistos, estamos a pedir-lhes muito!

EUA/Guerra no Iraque
Esta semana surgiu a notí­cia de que, aparentemente, George W. Bush terá iniciado a guerra no Iraque com base em informações imprecisas (ou mesmo, em alguns casos, falsas) sobre o programa nuclear iraquiano.
Para um pró-americano assumido como eu, esta notícia poderia ser, à partida, um ponto de difí­cil análise. Começo por dizer que, a ser verdade esta notí­cia, George W. Bush entrega de mão beijada cada vez mais razão e cada vez mais poderes a todos os movimentos e vozes anti-americanas que já se encontram dispersas em todo o mundo. E coloca numa posição difícil todos aqueles que (como eu) defenderam a intervenção militar americana. Mas não tenho qualquer problema em condenar fortemente a decisão de Bush face a esta notícia. Até porque não acredito que Bush não soubesse que estava, supostamente, a ser enganado. No meio disto tudo, há uma outra ví­tima clara: Colin Powell. Powell foi às Nações Unidas mostrar as provas que suportavam as teorias norte-americanas. Powell, contrariado ou não, concordou com a política militarista de Bush. Note-se que na actual administração americana, Powell é, claramente, a sua figura mais moderada. Muitos analistas disseram que Powell não estava convencido que o Iraque teria ou poderia criar armas nucleares/químicas. Por isso, a posição de Powell é internamente reforçada e externamente fragilizada. Resta saber o que Powell irá fazer num futuro a curto/médio prazo. As divergências que mantém com Bush, Chenney e Rumshfeld podem ser suficientemente fortes para que ele deixe a Casa Branca. E isso seria o pior que poderia acontecer!
Pessoalmente sempre acreditei que este argumento da possível existência de armas nucleares/químicas no Iraque poderia ser complicado de sustentar. Politicamente teria mais força Bush invocar que seria necessário tirar Saddam Hussein do poder por ele ser um factor de instabilidade naquela região, já para não falar do seu apoio logísitico e financeiro a entidades e grupos terroristas. Mas Bush não seguiu essa linha e preferiu ser influenciado pelos falcões da indústria militar que o rodeam.
Graças a Bill Clinton, os EUA conseguiram armazenar um capital de prestígio, confiança e de liderança mundial aceitável e admirável. De facto, Clinton terá sido um dos melhores presidentes americanos de sempre, apesar de todas as polémicas em que esteve metido. A economia americana e as reformas sociais levadas a cabo por Clinton tiveram efeitos extremamente positivos. O seu charme contagiou também a Europa e o Mundo. É notável ver como, em pouco anos, George W. Bush arruí­nou por completo o legado de Clinton.


Notas da Semana

O fim da telescola - o governo quer acabar, em 2004, com a telescola, agora chamado Ensino Básico Mediatizado (EBM), refere o Jornal de Notícias desta quinta-feira. Desde 1964 que esta vertente já permitiu a escolarização básica de um milhão de alunos! É, por isso, um caso do sucesso no meio do oceano de tragédias que é o sistema educativo do paí­s. Esta decisão faz lembrar as decisões de Böloni no seu Sporting da época passada: a meio do jogo tirava os melhores jogadores porque poderiam ser incompatí­veis! Não se percebe! Pior ainda, tenho medo de saber as razões invocadas pelo Governo para tomar tal decisão.
Para reflectir: mesmo com o sucesso da Telescola, Portugal apresenta hoje uma taxa de analfabetização igual à taxa de analfabetização que o Reuno Unido apresentava...nos finais do século XIX!

A avaliação dos professores universitários - a boa notícia que o Ministério da Educação deu esta semana é, de facto, algo que os estudantes universitários há muito reclamam: a publicação dos resultados das avaliações dos professores universitários. Esta avaliação é feita pelos alunos e, até hoje, o tratamento dos dados e as suas conclusões eram guardadas a sete chaves pelos directores dos departamentos. Parece a história de um filme sobre mafiosos, mas não...é a pura realidade. Agora, parece que a voz dos alunos vai puder ser ler lida e ouvida. Resta-nos esperar que as avaliações feitas pelos alunos não sejam distorcidas (porque os questionários são tratados estatisticamente pelos próprios professores!) e vamos ver que consequências irão ter. Aposto que nada irá mudar... é muito difícil desmontar uma máquina de favores e favorecimentos pessoais que está instalada há já muitas décadas nas nossas universidades!
Mas proponho o seguinte sistema: tal como na nossa Super(?) Liga de futebol, os três piores professores são despromovidos (i.e., vão passear a sua "classe" para outros palcos!) e o melhor será o campeão e terá regalias especiais no seu local de trabalho (um gabinete maior, um PC melhor....)! Sonhar (ainda) não paga imposto!

A caminho de Marte - as três missões a Marte decorrem sem problemas. Desta vez Marte vai memso ser invadido! Deixo aqui uma sugestão de leitura: a International Academy of Astronautics disponibiliza online e gratuitamente uma série de estudos que realizaram sobre futuras explorações do cosmos. São documentos bastante interessantes e podem ser lidos em http://www.iaanet.org/p_papers/index.html

Astrofesta - de 1 a 3 de Agosto irá relizar-se em Constância mais uma edição da Astrofesta. A organização é do Museu da Ciência de Lisboa e este ano temos uma originalidade: lançamento de pombos! Para mais informações: http://www.museu-de-ciencia.ul.pt/astrofesta/


Quer ler?
Freeman Dyson é um dos maiores nomes da divulgação da Ciência actualmente. Pessoalmente, considero que Dyson está ao mesmo nível de Sagan no que diz respeito à provocação científica e na partilha da curiosidade. Mundos Imaginados e Infinito em Todas as Direcções são dois livros que, acima de tudo, refrescam a nossa mente! Fala-nos do futuro: do nosso e o dos nossos próximos e como a Ciência irá moldar esse mesmo futuro. Ambos da editora Gradiva.



Melodias
O Verão poderia rimar com ritmo. Hoje uma sugestão mais mexida. O compositor é Mythos e os seus trabalhos Mythos, Reality of a Dreamer e Eternity trazem-nos a fusão entre batidas mais fortes e modernas com sons mais suaves. Um casamento feliz entre o Jazz com música electrónica.






TV - para que te quero?
Voltamos à Ciência e, em particular, à ciência que se faz em Portugal. Vasco Trigo traz semanalmente, no seu magazine 2010, notícias sobre o desenvolvimento cientí­fico e tecnológico no nosso paí­s (e não só!). Um programa dinâmico e que merecia uma outra visibilidade no panorâma televisivo português. 6ª feira às 19h na RTP2.

E esta semana ficamos por aqui...

FMSG

Que o céu não nos caia na cabeça!

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