Contextos...
O que se passa com os políticos?
Falta ainda muito tempo para as próximas eleições presidenciais... Por isso, porque razão se começa já a falar das Presidenciais? Será um novo "tique" do sub-desenvolvimento que Portugal tão originalmente inventou? Uma maneira de focar as nossas atenções para essas eleições (que podem vir a ser as mais mediáticas até hoje!) e esquecer os problemas que o nosso país enfrenta? Ora como eu não tenho a responsabilidade e o poder para gerir timings políticos e assuntos de agenda, vou também, de uma maneira muito sintética, comentar os nomes dos pré-pré candidatos que surgiram na praça pública nestes últimos meses.
Pedro Santana Lopes (PSL) - quando PSL se candidatou e venceu a Câmara de Lisboa, muitos foram aqueles que disseram que esse seria o passo lógico que teria de dar para se aventurar a conquistas mais ambiciosas! Eis então que PSL se revela ao assumir (com avanços e recuos próprios de alguém que vê que tais sonhos podem ser apenas fumo de vista) como pré-candidato a pré-candidato às presidencais. Santana Lopes tem 2 obstáculos (qual deles o maior?) pela frente: 1. fica constantemente sujeito às movimentações de Cavaco Silva (CS), pois o PSD e o PP irão apoiar inequivocamente o ex-PM; 2. a sua imagem de playboy e de enfant terrible do PSD em particular e da política portuguesa geral é algo completamente incompatível com a postura e perfil de um Presidente da República. De facto, ao longo destes anos PSL preocupou-se (às vezes excessivamente!) em criar uma imagem de dinâmica, independentemente do tipo de dinâmica! E isso pode-lhe custar muito caro e pode ser decisivo!
Como pontos positivos, PSL sabe que goza de uma imagem de simpatia junto do povo português, aliando essa característica à sua capacidade de seduçao. No entanto, não me parece que esta face agradável de PSL consiga bater os pontos negativos acima descritos!
Cavaco Silva (CS) - o problema de CS já não se encontra tanto na imagem de homem cinzento e pouco simpático que deixou quando foi Primeiro Ministro; pelo contrário, ao longo da governação socialista, o prestígio de CS cresceu gradualmente e hoje o seu capital de carisma junto dos portugueses é algo de notável. O que joga contra Cavaco Silva é o seu perfil enquanto homem e enquanto economista. Cavaco Silva foi, nos primeiros anos da sua governação, um excelente Primeiro-Ministro. Saíu do poder não por uma questão de perda de qualidades mas porque, em política, o factor "desgaste" é algo de acompanha sempre desfavoravelmente o desempenho de qualquer políÂtico! Por isso, a sua imagem enquanto homem de administraçãoo e de decisão não está minimamente afectada. Porém, um Presidente da República tem de ser uma entidade unificadora de um povo! O povo tem de se rever no seu PR. O povo tem de gostar do seu PR. E Cavaco Silva perde neste aspecto; não é uma pessoa que saiba criar e gerir simpatias entre a população e não é uma pessoa de consensos! Não se consegue imaginar Cavaco Silva a sentar líderes partidários numa mesma mesa consigo e agir com imparcialidade! Tem uma imagem e um poder tão fortemente colado ao PSD que a expressão força de bloqueio poderia facilmente ser utilizada como arma de remesso pela oposição!
A verdade é que CS é um forte candidato da direita e pode mesmo vencer (facilmente) as próximas presidenciais.
Cavaci Silva foi um excelente PM e penso que os portugueses actualmente não se importariam de trocar Durão Barroso por CS. Porém, CS em Belém pode ser um "erro de casting"!
Mário Soares (MS) - por razões que pura e simplesmente me ultrapassam, o nome de Mário Soares apareceu de repente, nesta corrida. Mário Soares tem o perfil perfeito para o cargo de PR. O povo identifica-se com ele, gera simpatias e não é por acaso que é conhecido, popularmente, pelo "Bochechas". Mas a questão que se levanta imediatamente é pertinente: será que a idade de MS não será um obstáculo? Devemo-nos lembrar que há, no passado da história da Humanidade, personalidades políticas que numa idade já avançada tomaram o poder de dirigir uma nação nas suas mãos. Churchill serão o caso mais emblemático. Depois de ter deixado a Presidência da República, MS continuou a dar sinais de uma vitalidade e jovialidade política notáveis. E nunca deixou que a sua idade fosse utilizada como argumento político. E também nunca deixou de criticar o governo de Guterres e o actual de Durão Barroso. E aqui pode residir o cerne da questão "MS para PR"... qual será o poder e o peso de MS no aparelho do PS? António Costa, uma das maiores figuras do actual PS, já admitiu que veria com bons olhos a candidatura de MS. Sócrates diz que ainda é muito cedo para pensar nisso (mas não acredito que Sócrates, no final, concorde com este avanço de MS). Ferro Rodrigues ainda não sabe o que pensar no meio disto tudo! E ainda há que referir que todas as personalidades socialistas próximas de Guterres não vão esquecer os tempos difíceis que MS lhes provocou quando estavam no governo! Por outro lado, os parceiros de esquerda do PS irão ter posições diferentes: o PCP vai apoiar um candidato qualquer do PS e irão tomar tal posição porque o actual PCP não tem força para apresentar um candidato próprio e mesmo que avance com um nome, o mesmo não irá ter qualquer peso no eleitorado de esquerda. O Bloco de Esquerda vai avançar com um candidato próprio pois assim garante, à partida, um novo espaço mediático (caberá de novo a Fernando Rosas tal "espectáculo"?). Por isso, e se analisarmos o posicionamento da esquerda em relação a uma eventual candidatura de MS, concluímos que não há consenso à esquerda à volta de MS, começando logo no seio do próprio PS!
A idade de MS pode não ser um obstáculo, mas os anti-corpos que criou dentro do PS podem ser determinantes nas suas aspirações presidenciais. E não creio que MS parta para esta corrida sem o apoio do próprio PS. Seria uma vergonha difícil de ultrapassar.
António Guterres (AG) - sobre CS disse que a sua eventual corrida a Belém seria um erro de casting. Sobre António Guterres direi que o seu erro de casting foi ter sido PM. De facto, Guterres tem, sobretudo, um perfil de PR e não de PM. É verdade que enquanto foi PM Portugal conseguiu desenvolver-se em áreas fulcrais como a ciência ou a na reforma social. Mas a imagem que os portugueses guardam de Guterres não é positiva. E essa imagem pode ser (ou não!) determinante no meio desta corrida.
À partida, AG seria um fortíssimo candidato da esquerda. Seria bem visto pelo PCP e uma operação de charme mais ou menos bem conduzida poderia, inclusivé, trazer o apoio do BE à sua candidatura. Mas, tal como MS, o problema da AG poderá surgir do interior do seu partido. Qual será o poder dos Soaristas no aparelho? Se o poder destes for relevante, AG nunca será o candidato do PS.
AG tem ainda o já falado problema de imagem. Não saiu bem da política e o povo português não gosta de pessoas que fogem, mas acredito que a sua natural simpatia e afabilidade pode inverter essa situação. E AG é perito em tais operações de charme (seria interessante assistir a um debate entre PSL e AG). AG pode ser o candidato da esquerda... mas primeiro tem de convencer o seu próprio partido!
Outros nomes credíveis que podem aparecer - António Vitorino, Daniel Proença de Carvalho, Jaime Gama, Francisco Pinto Balsemão, Vítor Constâncio, Manuel Monteiro.
Personalidades que, se forem inteligentes, não serão candidatos - João Soares, Mota Amaral, qualquer personalidade do PCP.
Notas da Semana
Pedro Burmestrer/Casa da Música/Rui Rio - já começa a atingir o grau de paródia nacional (no mau sentido) esta questão da Casa da Música. Pedro Burmestrer pode ter agido políticamente mal, mas resta saber se tem ou não razão naquilo que disse! De notar que Rui Rio insurgiu-se contra Burmester não por aquilo que disse mas pela maneira como disse! A questão é complexa mas, no meio disto tudo, não há santos! E Rui Rio, com mais esta picardia, aumenta cada vez mais o fosso entre ele próprio e a população do Porto. Mais grave ainda, está a colocar em perigo o seu prestígio e capital político. Se já é bastante difícil Rio recandidatar-se à Câmara do Porto, muito mais difícil será ganhá-la de novo! E no meio disto tudo quem fica prejudicado é um espaço de cultura de extrema importância para o Porto e para Portugal!
Foe (jogador da selecção nacional dos Camarões) - para todos aqueles que, como eu, são adeptos do futebol enquanto espectáculo, têm de sentir uma grande tristeza pelo falecimento de Foe. Às vezes ouvimos da boca de alguns actores/actrizes que o sonhos dos mesmos é morrer no palco. Foe foi um artista e morreu no seu palco. Mas o seu futebol cheio de alegria, cor, técnica e raça não será esquecido. Foe era um símbolo actual dos Camarões como noutros tempos foi Roger Milla. Tenho a certeza que a espiritualidade tão profunda daquele povo nunca mais vai esquecer Foe. Quem o conheceu diz que ele era um homem de e para a família. Saía do campo e ia para casa, para junto dos seus. Amava os seus amigos e preocupava-se com o seu país. Morreu aos 28 anos dando mais uma prova de amor pelo seu país - o jogador antes do jogo já se sentia bastante cansado, mas pediu ao treinador para jogar!
Não deixa de ser marcante a imagen da queda de um símbolo em pleno relvado...
Benfica e o fim das modalidades amadoras - a Direcção do Benfica propôs a extinção das actividades ditas amadoras. No fim deste debate salvou-se o basquetebol e o futebol de salão. O hóquei está ainda entre a vida e a morte. Vilarinho, quando entrou no clube, disse que a melhor equipa do Benfica era a de hóquei. E esta equipa de hóquei do Benfica tem apenas o melhor jogador do mundo (Panchito Vélasquez) e, quiçá também, o melhor jogador nacional (Felipe Gaidão). Correm rumores de que este último já terá assinado um contracto com o FCP.
Caso não se encontre uma alternativa viável para as modalidades amadoras, o Benfica, enquanto maior clube nacional, perde uma parte significativa da sua mística. E veremos, a médio/longo prazo, o que irá acontecer às modalidades amadoras dos outros grandes clubes nacionais!
O relatório de Vitor Constâncio - o director do Banco de Portugal veio dar más notícias ao país. Economia em recessão e o desemprego vai continuar a subir. Atravessamos numa crise parecida com a crise de 93. Resta saber se os portugueses vão aprender com maior perfeição como comprar, como vender e, sobretudo, como poupar.
Agência noticiosa científica na Europa - de acordo com o Diário Digital (http://www.diariodigital.pt/news.asp?section_id=18&id_news=62595), Bruxelas quer criar uma agência de notícias de conteúdo científico. Há já muito que este projecto era falado e necessário e, pelos vistos, agora vai mesmo para a frente! É uma excelente notícia para a comunidade científica europeia e mundial mas sobretudo uma grande notícia para a cultura dos povos! Veremos quem irá representar Portugal nesse projecto...conheco algumas excelentes pessoas para tal cargo!
Corrida a Marte - após alguns problemas, a sonda Mars Express (ESA) conseguiu retomar sem problemas a sua viagem a Marte. Trata-se do primeiro grande projecto da ESA no campo da exploração espacial e pode ser que consiga criar uma imagem de inovação em vez de ser vista apenas como uma agência de comércio espacial, imagem essa que conquistou graças ao sucesso do projecto Ariane.
Quer ler?
A sugestão desta semana vai para a extraordinária novela Fundação de Isaac Asimov. A colecção desta odisseia está a ser traduzida e editada pela Editora Livros do Brasil e conta-nos uma história fantasiosa sobre a nossa Galáxia e todos seus dramas políticos e civilizacionais. Tudo começa com um homem e o seu Plano para o futuro da Galáxia e o aparecimento de duas Fundações, ninhos de filhos com a mesma missão mas de naurezas diferentes. Uma aventura excitante desde a primeira página!
Melodias
Paul Schwartz é o músico desta semana e, em particular, destaco dois trabalhos do mesmo: Aria 1 e Aria 2; trata-se da adaptação para batidas e ritmos modernos de óperas e árias bem conhecidas.
TV - para que te quero?
Fala-se muito do destino e para que serve a RTP2. Para todos aqueles que semanalmente fazem os possíveis para ver O Lugar da História (sábados à noite) sentem que a RTP2 é um refresco para a mente. Excelente o trabalho desenvolvido por Júlia Fernandes neste espaço que representa o que é serviço público, sempre com documentários acessíveis a qualquer idade e categoria social e com uma enorme riqueza ao nível do estímulo da curiosidade.
E esta semana ficamos por aqui...
FMSG
Que o céu não nos caia na cabeça!
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