terça-feira, setembro 5

Ainda André Agassi...

Um tributo muito interessante...



Agora já me sinto com o mínimo de condições emocionais para partilhar convosco um pouco mais sobre o que representa a figura, a pessoa e o jogador André Agassi para mim...

Em tempos, joguei ténis ao nível federado. Sempre fui auto-didacta no assunto e lembro-me perfeitamente da minha primeira raquete: uma Dunlop que, na altura, custou 1000 escudos e que, por coincidência, era da mesma marca da raquete de André Agassi! Foi comprada pelo meu pai ao saudoso Sr. Albuquerque, uma das figuras míticas do Albi Sport Clube de Castelo Branco... como nunca me dei muito bem com o estatuto social que este desporto na altura tinha (e que, felizmente, agora deixou de ter!) não fiz muitos amigos entre os jogadores e os treinadores, tudo senhores da alta sociedade albicastrense! De facto, sempre fui muito mais chegado aos proprietários que exploraram o bar desse clube!

Jogar ténis sempre foi para mim, acima de tudo, uma paixão! Foram inúmeras e longas as manhãs, tardes e até noites que passei na chamada parede, um pequeno recinto que continha apenas uma parede contra a qual praticamos os movimentos do ténis, jogando a bola contra a mesma; não tinha dinheiro nem companhia para jogar nos courts, a parede era a minha parceira! Foram invernos, outonos, primaveras e verões ali... saudosos!
A verdade é que comecei a praticar com cada vez mais afinco, porque gostava! Tinha jeito para aquilo e alguns viram isso; fiz amigos de circunstância e, muito timidamente, fui para os courts e joguei! Nos finais dos jogos, era comum irmos para a sala de convívio e, entre outras coisas, víamos muitos jogos de ténis! E foi aí, há muito tempo atrás, precisamente no início da carreira de André Agassi, que este me foi apresentado; na altura, todos os amantes do ténis estavam virados para o Lendl, Boris Becker, Stefan Edberg... os reis da altura! Foi então que apareceu um puto de cabelo muito comprido e louro! A partir desse momento, tudo foi diferente! Ele fazia palhaçadas, enervava os adversários e os árbitros, mas tinha logo a preferência, adoração e amor do público, de qualquer público! E ele evoluiu, cresceu, amadureceu!

Lembro-me, como se fosse ontem, da final de Wimbledon de 1992. André Agassi defrontou Goran Ivanisevic e ganhou... um jogo infernal, um jogo impróprio para cardíacos que me livrou de ir à missa nesse domingo, tal não foi o entusiasmo que a minha mãe viu em mim ao deliciar-me com tal jogo! André nesse jogo chorou e, confesso, eu também!

E porquê? Porque, por causa dele, eu sempre fui motivo de risota! Porque, perante os meus colegas e amigos de ténis, sempre disse, desde o seu início de carreira, que ele ia ser muito grande, enorme até! E todos riam de mim, literalmente! Um palhaço daqueles, chegar ao topo?

É fácil perceber porque me identifiquei logo com ele: por não ser um jogador alto (como eu), teve de desenvolver todo o seu jogo baseado na resposta a serviços extremamente rápidos, sempre com um jogo de fundo de rede extremamente táctico e inteligente e, sobretudo, por jogar também com paixão pelo jogo! Foi, sobretudo, na paixão pelo jogo que André Agassi sempre me conquistou! Porque usufruir do ténis (tal como qualquer outro desporto ou actividade) pelo prazer e pela paixão sem ligar a rankings, ao estatuto social é algo que sentimos profundamente em André Agassi e também sempre foi essa a minha visão do ténis.

Mas a dimensão pessoal de Agassi também me tocou: apesar de ser originário de famílias extremamente ricas (o seu pai foi um milionário grego), André Agassi sempre quis mostrar que queria triunfar no ténis, no seu ténis, não à custa da riqueza ou influência da família, mas sim através da sua vontade, do seu amor ao ténis e, porque não, da sua rebeldia! Com isso, construíu uma montanha de admiradores e seguidores onde me íncluo orgulhosamente. Além disso, basta fazer uma pequena pesquisa na internet para averiguar a quantidade de obras de solidariedade, caridade e projectos culturais e educativos em que Agassi se empenha pessoalmente e que será agora a sua principal ocupação uma vez deixado o ténis...

Por isso, André, meu amigo, recebe mais este agradecimento do rapaz que, com 12 anos e com 40 graus no pico de verão ia bater bolas na parede para aprender a jogar como tu... tenho pena de não te ver mais na minha televisão (pelo menos em directo), mas trazes à minha memória as mais doces recordações desportivas que tenho da minha adolescência!

Para finalizar, gostaria de deixar aqui as últimas palavras que André Agassi deixou ao público que esteve presente neste seu último encontro do torneio do Open dos Estados Unidos: No marcador, não aparece a lealdade, generosidade, dedicação e inspiração que recebi. Vocês ajudaram-me a atigir os meus sonhos. Comentários para quê?





P.S. - apenas uma pequena nota: foi precisamente no Albi Sport Clube de Castelo Branco que eu conheci, pela primeira vez, a Ana Castro... temos boas e más experiências desse local, mas, pelo menos, foram vividas e sentidas! Desde namoros tempestosos (não, nunca tivemos nenhum caso!!) a literais tempestades... Ana, we will always have Albi! :)

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