quarta-feira, outubro 12

Autárquicas: considerações

Passado já alguns dias após os resultados da eleições autárquicas, gostaria apenas de colocar em consideração alguns pontos que me parecem interessantes:

1. Em relação ao Porto (cidade), para a expressiva vitória de Rui Rio, contribuíu absolutamente tudo aquilo que escrevi no meu último post sobre esta matéria: reforçou a votação em Paranhos (subiu 3% em relação a 2001), subiu muito ligeiramente em Campanhã (mas o PS voltou a segurar esta freguesia) e, de resto, manteve ou subiu fortemente nas restantes freguesias em que dominou em 2001. Absolutamente notável foi o que aconteceu na freguesia de Aldoar, onde Rio foi apupado e agredido e Assis glorificado durante a campanha! Nesta freguesia, espante-se, Rui Rio conquistou olímpicamente a mesma... em 2001, o PS teve 43,76% e o PSD 38,44% enquanto que nestas últimas eleições, Rio obteve 42.61% e Assis 40,63%!
Rui Rio ganha estas eleições sobretudo com os resultados que obteve em Paranhos e por subidas significativas em freguesias tradicionalmente de direita (Foz do Douro, Massarelos...).

2. O que esperar dos próximos 4 anos de Rio com maioria absoluta na Câmara? Mais do mesmo ou pior... isto é, vai continuar na onda de rebeldia e contestação ao poder central (e o seu discurso de vitória foi prova disso!), completa falta de ambição e de modernização social e cultural da cidade e novas polémicas pessoais e institucionais com agentes do Porto e não só! O povo do Porto deu-lhe maioria absoluta, terão de conviver com a mesma...

3. A nível nacional, o resultado do PS foi o esperado; como já foi dito e escrito por vários analistas, o PSD abriu um novo ciclo eleitoral nas últimas autárquicas, em que a maior partes dos candidatos a estas eleições ainda vêem dessas eleições, isto é, são muitos aqueles que se candidataram a um 2º mandato agora em 2005: geralmente, o eleitorado aprova um 2º mandato e, assim, continua o ciclo político. Note-se que, a nível de votos, o PS subiu ligeiramente em relação a 2001...
Ao nível das capitais de distrito, o PS recupera Faro, mas perde Santarém e esteve muito próximo de recuperar Leiria.

4. Lisboa é uma lição séria para Carrilho e para o próprio PS... Carrilho nunca conseguiu ganhar a simpatia e a confiança dos liboetas mas foi uma decisão tomada no início de todos este processo que o fez perder esta Câmara: o facto de ter recusado uma aliança com o PCP. De facto, Carrilho quis seguir orgulhosamente só e isso foi-lhe fatal! O mesmo aconteceu no Porto com Assis! Carmona não era um forte candidato do PSD na capital (ao contrário de Rio na Invicta!) e pode dizer-se, numa comparação futebolesca, que Carrilho levou uma goleada da selecção do Luxemburgo e tudo por culpa própria!
Desconhece-se o futuro político de Carrilho e de Assis... para já, terão a habitual e esperada travessia no deserto!

5. A fraquíssima votação de João Soares em Sintra dá para reflectir... a verdadeira questão trata-se do sobrenome: Soares! Já não é um nome que imponha respeito ou, mais do que isso, que traga votos! E Mário Soares deve reflectir muito bem sobre o que aconteceu em Sintra, pois poderá acontecer o mesmo nas Presidenciais (outra eleição perdida para o PS)...

6. Sobre os partidos mais pequenos, há que realçar a extraordinária vitória do PCP; é a maior força da área metropolitana de Lisboa (quem diria??) e conserva 2 Câmaras de peso (Setúbal e Beja). Mérito de Jerónimo de Sousa? Também, mas não só! Ao nível das 2 maiores cidades, tiveram 2 bons candidatos, o mesmo acontecendo, de uma maneira geral, em todo o país.
O Bloco de Esquerda confirmou que é sobretudo um epifenómeno urbano e que, agora, se concentra sobretudo em Lisboa, pois teve uma clara derrota no Porto; no resto do país, a sua força foi praticamente inexpressiva!
Outro claro derrotado foi o PP. A votação do PP em Lisboa foi extremamente negativa, perdeu 2 das 3 Câmaras que detinha e a nível nacional desce ligeiramente. Este também foi um dos motivos da clara vitória do PSD nestas eleições: não tem concorrência à direita, o que não acontece com o PS à sua esquerda...

7. Felgueiras, Valentim Loureiro, Isaltino Morais e Ferreira Torres: parabéns Amarante!!

7. Eleições autárquicas nunca poderão ter uma interpretação nacional; Guterres cometeu esse grave erro em 2001 e Sócrates teve a amabilidade e inteligência política de afirmar que continua com total legitimidade para governar o país! E é verdade, pois a oposição (PSD) ainda é algo de difuso...

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