quinta-feira, maio 26

Sobre as medidas de José Sócrates...

e antes de dar uma opinião pessoal sobre as mesmas, será interessante colocar aqui o editorial de Miguel Coutinho no Diário de Notícias de hoje; trata-se de um jornal de direita com um editor de direita...

O Plano Sócrates

O silêncio de dois meses e meio de governação está agora justificado. As palavras de Sócrates fazem sentido. A sua determinação parece genuína. Falta fazer e não ceder - falta quase tudo. Mas que foi um bom começo, lá isso foi!


É compreensível a fragilidade dos argumentos da oposição ao Plano Sócrates - o discurso e as medidas de austeridade que o primeiro-ministro propõe parecem ser uma terapia realista e sem equívocos para sanear as finanças públicas.
Na justa medida em que o realismo em política é um bem escasso, deve, pois, saudar-se a coragem de José Sócrates e do seu ministro das Finanças.
É verdade que o primeiro-ministro terá ganho inúmeros inimigos com o seu plano. Ele não é simpático com os funcionários públicos; não deverá agradar às classes média e alta; trará descontentamento aos administradores das empresas públicas e aos gestores de empresas privadas; causará perplexidade nos profissionais da política.
José Sócrates atingiu interesses instalados e nisso foi mais longe do que os primeiros- -ministros que o antecederam. António Guterres, Durão Barroso e Santana Lopes não foram tão consequentes como ele na ligação entre um discurso moralizador - que foi comum a todos - e a austeridade que se exige ao País, mas também à classe política que o governa.
O plano apresentado pelo Governo é - porque implica escolhas - susceptível de críticas. Pode, sobretudo, duvidar-se do argumento ideológico que suporta a manutenção das auto-estradas sem portagens (Scut) ou discutir o efeito depressivo do aumento do IVA sobre a economia.
Mas, no essencial, as propostas e o argumentário de José Sócrates correspondem ao que tem sido a reflexão crítica de economistas e da sociedade civil sobre a despesa pública.
O Plano Sócrates tem, ainda, a vantagem de ser abrangente toca no sigilo bancário, nos offshores, no automatismo do sistema remuneratório da função pública, nas regalias dos gestores públicos, na convergência das pensões dos sectores público e privado, nos privilégios dos titulares de altos cargos políticos.
O silêncio de dois meses e meio de governação está agora justificado. As palavras de José Sócrates fazem sentido. A sua determinação parece genuína. Falta fazer e não ceder aos levantamentos de rua ou de bastidores - falta quase tudo. Mas que foi um bom começo, lá isso foi.


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